Ele é considerado o Oráculo do Vale do Silício. Pelo menos é o que afirmam os CEOs Eric Schmidt (Google e Alphabet), Brian Chesky (Airbnb), Reed Hastings (Netflix) e Mark Zuckerberg (Facebook). Além de ter conquistado as empresas de tecnologia que mais lançam tendências para o mundo, o conceito de Blitzscaling do empresário norte-americano Reid Hoffman já faz parte do vocabulário de muitos brasileiros do mercado de tecnologia e investidores de venture capital.
Você deve estar se perguntando: o que é esse tal de Blitzcalling? Conforme contou Hoffman para a Harvard Business Review, trata-se de uma metodologia usada para uma empresa crescer rapidamente e se tornar líder em escala.
Porém, para se desenvolver tão rápido, não há tempo para a empresa consertar tudo o que encontrar de errado pelo caminho. E é nesse ponto que o modelo pode ajudar a entender quais são as reais prioridades de negócios que pretendem ser disruptivos.
Segundo esse conceito, para descobrir no que focar, é preciso antes saber em qual momento a empresa se encontra, de acordo com as fases: Família, Tribo, Vila, Cidade e Nação. Em cada uma dessas fases, as percepções de gestão de pessoas, atendimento ao cliente, número de colaboradores e receita mudam significativamente.
Mas como você cria e mede o sucesso de um negócio bem-sucedido? Essa resposta não é simples. Uma coisa é certa: ao seguir esse modelo, muitas empresas cresceram de forma vertiginosa e conseguiram atender a um mercado enorme e global.

A origem de Blitzscaling
O nome surgiu do termo “blitzkrieg”, tática militar do exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) usada para surpreender os adversários. Apesar da referência um tanto questionável ao termo que foi usado como propaganda para o governo nazista, o que o próprio Hoffman confirma, o ataque-relâmpago que permitiu à Alemanha conquistar quase toda a Europa tem grandes paralelos com a metodologia.
Antes dessa tática, os exércitos não tinham velocidade nem mobilidade para avançar pois tinham que carregar seus suprimentos. Com a chegada do blitzkrieg, os soldados passaram a levar apenas o necessário e assim, ganharam mobilidade, ao mesmo tempo em que tiveram que tomar rápidas decisões, mesmo que elas implicassem em grandes perdas.
A perspectiva do Blitzscaling é a mesma. Nas palavras de Hoffman, “uma startup que precisa se mover rápido, tem mais risco embutido do que uma empresa passando pelo processo normal e racional de expansão. Esse tipo de velocidade é necessária por razões ofensivas e defensivas”.
Segundo ele, ofensivamente, a empresa pode exigir que uma determinada escala seja valiosa. Essas escalas se caracterizam por um determinado número de usuários, clientes, colaboradores ou receita, medidas para que empreendedores e investidores consigam ter uma noção de onde as empresas se encontram na escala organizacional. Na defensiva, as empresas precisam escalar mais rápido do que seus concorrentes.
Por que as empresas têm tanta pressa em crescer atualmente?
Certas empresas têm pressa. Além de ser importante em contextos econômicos desafiantes, a ansiedade para crescer se traduz em permanecer relevante no clima volátil da economia atual. A ajuda, nesse caso, vem da tecnologia, que mantém tudo interligado e facilita processos internos e externos antes considerados uma barreira para o crescimento e bom funcionamento das empresas.
Para Hoffman, a globalização atual nos faz viver em uma era conectada em rede. “…redes de transporte, comércio, pagamento e fluxo de informações ao redor do mundo todo. Em tal ambiente, você precisa se mover mais rápido, porque a concorrência de qualquer lugar do globo pode vencê-lo”, explicou.
Para quem o Blitzscaling serve?
Envolvidos com tecnologia, startups, empreendedores, investidores e organizações de capital venture estão descobrindo que se tornar líder em escala pode ajudar a conseguir novos aportes financeiros até a abertura de capital ou uma aquisição estratégica.
Mas, mesmo que você passe longe desse perfil e trabalhe em um negócio com aspirações mais modestas, há alguma sabedoria que você pode tirar do modelo de Blitzscaling. As experiências das empresas com o conceito de Hoffman podem ajudar você a executar praticamente qualquer negócio.
O Blitzscaling é uma cria do empreendedorismo de alto impacto. Empresas que seguem esse tipo de metodologia ajudam a criar muitos empregos e a delinear a indústria do futuro. Mas se tornar o primeiro líder em escala, conseguindo atender a uma grande demanda, não é algo simples.
E também é considerado inútil e até mesmo arriscado adotar o comportamento de uma fase de Blitzscaling mais avançada do que a sua empresa esteja no momento. Por exemplo, se a empresa é Família, pouco adianta usar as mesmas práticas de uma Vila ou Cidade.
O fato é que enquanto todos os objetivos de cada fase não forem atingidos, não será possível fazer parte de uma escala organizacional seguinte.
Como aplicar o Blitzcalling em seu negócio?
Na teoria, bastaria começar a escalar sua empresa. No entanto, nenhum negócio começa escalável. A história do Airbnb ilustra bem isso. A fim de entender quais eram os problemas que seus usuários tinham com a plataforma, Brian Chesky e Joe Gebbia saíram da Califórnia rumo à Nova York para baterem na porta de seus “anfitriões”.
Com a experiência eles descobriram que grande parte das fotos usadas no Airbnb era amadora, o que passava uma péssima impressão os interessados. Então, eles arregaçaram as mangas e alugaram uma câmera profissional para fazer novas imagens dos apartamentos. Hoje, a empresa já conta com fotógrafos profissionais para produzir essas fotos.
Apesar de não ser escalável, bater de porta em porta permitiu aos fundadores da companhia convencer aqueles que preferiam alugar apartamentos de outra forma. Ou seja, a diferenciação da empresa surgiu de uma atitude inovadora para entender a clientela.
Durante as duas primeiras fases, Família e Tribo, a competição não é relevante porque as oportunidades não são tão óbvias. Mas quando a empresa se torna uma Vila, mais empresas passam a ver as mesmas oportunidades que aparecem para você.
Quando o Airbnb se tornou uma Vila, seus maiores rivais eram seus competidores e o governo americano, o que proporcionou um novo impulso para conquistar novos mercados. Informe-se sobre outros casos de grandes empresas que usaram o método e aprenda outras lições importantes.
As prioridades de cada etapa do Blitzscaling
Família
Nessa fase a empresa deve desenvolver seu produto ao máximo, para que ele tenha uma proposta de valor clara e atenda a uma necessidade única do mercado, ao mesmo tempo em que a empresa se foque em encontrar os melhores canais de distribuição e um modelo de negócio sustentável. Ainda nessa etapa você terá que contratar seus primeiros colaboradores e encontrar a oportunidade na qual você terá uma vantagem competitiva. Nesse início, o foco deve estar em estruturar a pequena empresa, descobrir bons fornecedores e encontrar soluções simples para automatizar os processos burocráticos para facilitar o cotidiano.
Tribo
O seu produto deve estar bem definido nessa etapa. É hora de considerar investimentos para crescer, ajustar seu produto ao mercado e aumentar seu time. Quanto mais agilidade nesse momento, mais você se destacará de seus competidores e mais rápido conseguirá escalar. Entre as melhores técnicas de crescimento para sua empresa estão se tornar viral, fazer parcerias e cuidar bem de suas redes sociais, além de investir em SEO para garantir o posicionamento da sua marca nos mecanismos de busca. Agora é o momento de pensar em uma solução para agilizar de fato o lado operacional da empresa. Aposte em ferramentas que impulsionem a agilidade da Tribo, que permitam fazer cotações rápidas e ter acessos a diversos fornecedores, como um marketplace. Algumas soluções tecnológicas possibilitam a criação de relatórios, com dados importantes sobre a empresa. Além de ajudar a entender quais serão os futuros pontos a serem escalados, esses relatórios são vitais para economizar tempo.
Vila
É chegada a hora de escolher o momento certo para escalar, o que vai depender de fatores como oportunidades de mercado, capacidade de ver mais longe, recursos disponíveis e concorrência. As contratações devem ser rápidas. O esforço com o cotidiano deve ser mínimo para que a gestão não se prenda nas burocracias e sim na identificação, planejamento e execução do seu core business. Porém, agora a empresa deve saber de cor o seu core business e qual item deverá escalar primeiro. Com relações mais complexas, empresas Vila precisam pensar em soluções para simplificar seus processos internos e cuidar da gestão.
Cidade
Para chegar até aqui, é provável que a empresa já tenha mais de um produto e uma fonte principal de receita. A ideia desse estágio é garantir a eficiência da administração de recursos em larga escala, sem diminuir a velocidade da empresa. Talvez tenha chegado o momento de mudar a sua estratégia de tecnologia e voltar seus esforços para a produtividade a partir da criação de novos processos, dashboards para controlar seus dados e gestão transparente, para que a velocidade não seja reduzida.
Nação
Aqui, a empresa já deve estar lidando com questões relativas a diferentes culturas, já que também estará investindo em uma estratégia global. O maior desafio de uma empresa Nação é comunicar suas ideias entre milhares de colaboradores em todo o globo e expandir ainda mais seu negócio, que já conta mais do que uma linha de produtos. Empresas dessa envergadura devem escalar a cultura para o novo formato. Com isso, aumenta o poder do CEO e a importância da seleção de gestores. Neste cenário, o desafio é implementar processos eficientes de gestão de riscos – desde o saneamento dos dados cadastrais dos parceiros até a avaliação da reputação da companhia e seus executivos. Sobre esse assunto, a automação é uma boa saída para manter o enfoque no que realmente importa.
Fonte: Endevor.